Era uma vez...
Há muitos, muitos anos, pelo menos na minha perspectiva, vivia com a vóvó e os filhotes dela um gatinho igualzinho a mim, chamado Ronron. As crianças que sempre adoraram animais, tinham para além do Ronron um peixinho chamado Fígaro (peixe com nome de gato, humpfffff), um simpático casal de tartaruguinhas do amazonas, a Rita e o Carlinhos e uma rola a Guida, que todos os dias andava à solta desde que houvesse gente em casa, roubava descaradamente comida dos pratos dos donos mais pequenos desafiava o Ronron enquanto sentia as costas quentes, mas que para seu próprio bem à noite ia dormir para a gaiola, imagine-se lá porquê!
Mas, nestas histórias há sempre um mas, a Rita e o Carlinhos que eram sossegadíssimos enquanto estavam pessoas em casa, quando se apanhavam sózinhos subiam a borda do aquário que de facto não era muito alta, e desapareciam! Isto uma vez um outra vez outro e por vezes os dois. Então lá andava toda a gente a meter o nariz debaixo das camas e móveis até os encontrar aninhadissimos num sítio qualquer. Mas a vóvó achava estas digressões turísticas despropositadas até porque nunca se tinha dado conta que eles fossem muito amigos de viajar.
Bem, um belo dia, ao apanhar do chão a Ritinha a vóvó constactou que na barriguita dela se encontravam umas marcas estranhíssimas! Tão estranhas , tão estranhas que podiam perfeitamente ser o molde da dentadura de um felino (sobretudo das presas), imaginem lá o absurdo!
E a partir daí prometeu de si para si vigiar disfarçadamente o tigre doméstico. Não foi preciso muito tempo para o apanhar a meter a delicada patinha dentro do aquário e tentar fazer rebolar cá para fora os pobres bichinhos. Pois se eles até pareciam assim uma meia bolinha...eram tão engraçados para ele poder brincar! E aquela marca não era uma dentada ostensiva, tinha sido resultado de uma forma de transporte cujo veículo provavelmente tinha falta de amortecedores.
Claro está que o aquário mudou de lugar. O Ronron começou a aprender que aquelas coisas engraçadas não eram bolinhas, eram bichinhos e eram amigos. Que não se fazia mal, etc, etc...
Todos os dias à noite antes das crianças irem dormir a vóvó conversava com elas àcerca da escola, das novidades do dia e brincava um pouco também. O Ronron assistia sempre a esses eventos deitado numa das camas, esperando pacientemente para se poder meter dentro de uma delas. Então numa dessas reuniões a vóvó resolveu ter mais uma atitude pedagógica e de dedo em riste e com a outra mão exibindo uma das tartaruguinhas mesmo perto do focinho do Ronron preparava-se para lhe fazer mais uma das suas prelecções. A vóvó diz que nesse momento sentiu o que a Ritinha pensou: - É agora, meu malandro, vais pagá-las todas, oh! Se vais!. E sem que ninguém esperasse, a nossa amiguinha abriu uma enormérrima boca, que cravou com toda a alma numa das orelhas do Ronron, ficando pendurada, qual “brinquinho”, do apêndice auricular do nosso amigo gato. A estupefacção foi de tal ordem que no primeiro momento penso que toda a gente pestanejou para poder interiorizar o acontecimento. Claro está que imediatamente de seguida a gargalhada foi geral. O nosso amiguinho bem abanava a cabeça na vã tentativa de ser ver livre daquele incómodo, mas a Ritinha estava apostada em dar-lhe uma lição memorável. E foi a vóvó que cuidadosamente abriu as mandíbulas da bichinha, e libertou o Ronron que curiosamente nem sequer bufou, tais deviam ser os problemas de consciência. Foi remédio santo. A partir desse dia o respeitável casal de quelónios passou a ser olhado com o maior respeito pelo felino da casa. Mas quem assistiu a esta cena jamais a esquecerá e ainda hoje é motivo de risada sempre que os manos se juntam. Aqui para nós, estou felicíssimo que não existam essas maravilhas aqui em casa. É que para ser honesto, eu não sei se resistia...
Anúbis
2 comments:
Bela história,amiguinho:).Eu não consegueria resistir.Sou um caçador nato.Frederico.
Delicioso, lindo amigo, Xuxa.
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